Celularite

Celularite

São inúmeras as utilidades do celular moderno. É impossível negar os benefícios que esta tecnologia nos trouxe. Ela aproxima quem está longe, faz possível que compartilhemos imagens e sons com uma velocidade nunca pensada.

No entanto, tem trazido também novas doenças ainda não classificadas no código de doenças psiquiátricas. São as celularites. Nada mais são do que o reflexo da doença dos seres humanos que não estão conseguindo utilizar a tecnologia de uma maneira mais construtiva por conta do excesso.

Que Doença É Essa?

Uma mulher vai ao médico, ao psiquiatra a pedido da família. Ao chegar no consultório, com seu celular na mão, vinte e poucos anos, abre a porta e senta. Mal olha para o psiquiatra, mas olha fixo na tela do celular.

O psiquiatra a chama, dizendo “Bom dia!”. Ela responde, logo volta a olhar para o celular. Depois de alguns segundos coloca o celular na mesa, o psiquiatra pergunta por que ela o teria procurado.

  • Sabe o que é, foi a minha família que me mandou aqui. Mas eu acho que não tenho problemas. Espera, eu preciso ver o que o grupo do Whats está dizendo. Está ouvindo o sinal?

O psiquiatra espera pacientemente. Ela deixa novamente o celular na mesa. Ele pergunta a ela, como ela tem vivido, o que tem feito, com quem tem conversado. Ele tenta um contato visual, mas logo ela pega novamente o celular e diz que tem que ver o que postou no facebook para saber o que tem feito.

Ela abre a página do facebook e mostra a ele fotos de selfies de todos os tipos.

O psiquiatra para e diz para ela:

  • Já sei. Você tem celularite.
  • Celulite? Ah, doutor, como eu quero acabar com minhas celulites!!! Vou poder publicar umas fotos lindas do meu bumbum sem celulite! – diz a paciente.

Ele pega o celular da mulher e o desliga. A mulher olha para o psiquiatra estupefata e tenta não deixar ele retirá-lo das mãos antes de desligar. Ele explica para a paciente que as celularites são doenças provocadas pelo celular, ainda não classificadas no DSM (livro que registra as doenças psiquiátricas). Só retirando o aparelho das mãos da paciente é que o médico consegue falar diretamente com ela.

 

Doenças Provocadas Pelo Celular

São as seguintes celularites:

1) Transtorno de Ansiedade Gerada Pelo Celular

Depois que o celular surgiu, há um transtorno que acontece também por conta da violência crescente das grandes cidades. A pessoa sai de casa e leva o celular. Os outros que a conhecem, principalmente os pais, ligam para a pessoa e se ela não atende, quem ligou quase surta ou surta de ansiedade. Pensa que pode ter acontecido tudo e mais um pouco com a pessoa.

Antigamente quando não existia o celular, era muito mais difícil falar com os outros. Era necessário que a pessoa estivesse em algum estabelecimento, seja em casa, na escola ou no trabalho. E estes lugares precisavam ter um telefone fixo. Mas ninguém se estressava e não ligavam desesperados o tempo todo e nem todos os dias. Se alguém não atendia o telefone, poderia estar fora de casa fazendo qualquer coisa normal ou podia estar ouvindo música alta, podia estar tomando banho. A imaginação não era tão grande a ponto de deixar a todos neuróticos porque alguém não atendeu o celular.

 

2) Narcisismo

O narcisismo é um transtorno de personalidade onde o ego fala mais alto. Nas redes sociais, este transtorno se reflete pelo número de selfies tirados por dia e também pela dependência das pessoas ao “curti” dos outros.

Os Kardashians são típicos narcisistas exagerados que colocam tudo o que fazem nas redes sociais. Há uma medida de narcisismo que são os selfies por hora.

 

3) Transtorno do Deficit de Atenção e Hipoatividade Gerados Pelo Celular

Muita gente anda por ruas e calçadas com o celular grudado nos olhos. Não prestam mais atenção ao ambiente em volta. São capazes de esbarrarem em alguém, ou de provocar ou sofrerem acidentes que podem ser graves.

O celular é causa conhecida de acidentes de trânsito. Já foram produzidos filmes sobre isto, como “Sete Vidas” com Will Smith. E este comercial que colocaram numa sala de cinema foi feito com tom educativo para convencer as pessoas de desligarem o celular ao dirigirem. Tem gente sem noção que fica ligando e querendo que o motorista atenda de qualquer maneira até para pegar carona no carro deste motorista. Só quem dirige com responsabilidade é que entende e se irrita com isto.

Já vi um caso de um casal que entrou dentro do avião errado porque ficaram mexendo no celular e comentando as fotos de Fulana ao invés de perceberem que o portão do vôo deles tinha mudado. Só foram perceber quando estavam dentro do avião errado e o assento deles já estava ocupado.

 

4) Selfieal Killers

Estes são os que tiram selfies sem pensar que estão machucando ou até matando animais. Eles tem também sede de sangue, acidentes, eventos que são potencialmente fatais.

É a ausência total de conexão com a natureza e a coisificação dos animais e pessoas.

Este caso do filhote de golfinho que morreu e os turistas tiraram selfies. Há pessoas que dizem ser um boato e que o golfinho já estaria morto antes dos turistas agirem desta maneira. Eu pergunto e desafio a todos os que pensam assim a descreverem o quadro de parada cardíaca de um golfinho, já que num humano poucas pessoas a não ser aqueles que trabalham na área de saúde sabem palpar os pulsos corretos para saber se há batimentos cardíacos. Não, não é o pulso das mãos. É o pulso femoral e algumas vezes o carotídeo (raramente). Ou então se ausculta o coração. E eu já ouvi relato de médico que disse que achou que uma senhora tinha morrido e começou ressuscitação dando um empurrão no peito da velhinha que disse que estava apenas dormindo. Alguém tinha um estetoscópio para ouvir os batimentos cardíacos do golfinho? Alguém sabia ver pulsos de golfinho? Duvido que sim. Quem coloca que seria boato ou quer se isentar de culpa ou tem medo de que as pessoas percam a esperança na humanidade quando os seres humanos já fizeram coisas bem piores do que essas. Pensem na responsabilidade dos atos e comecem a mudar ao invés de querer amenizar as situações e as notícias.

É urgente as pessoas começarem a perceber e se responsabilizar pelos seus atos, não deixarem que outras pessoas façam este tipo de coisa. Ou vão deixar porque pensam que o bicho vai ficar vivo ou já estava morto e tudo não passa de boato? Cadê a responsabilidade das pessoas? Pois acontecem outros casos e se ninguém parar, vai piorar. Se acontecer de encontrarem algum animal marinho e começarem a fazer isso, corre pra parar e devolver o animal para o mar!!!! Não deixe isto acontecer!!!

Outra, a notícia de que turistas invadiram uma praia reserva de desova de tartarugas marinhas na Costa Rica não é boato e veio antes do que aconteceu com este golfinho. Metade das tartarugas que desovariam normalmente nesta praia ficaram no mar e não completaram a desova por conta disto. Pessoas sentaram nas costas das tartarugas que estavam colocando seus ovos. Se sentassem em cima de uma gestante parindo isto seria um crime.

As pessoas já estão há muito tempo coisificando tudo. Vamos acordar, este planeta é vivo, os seres humanos são apenas parte dele.

Acredite, o sujeito retirou um tubarão do mar para fazer uma selfie. Uma semana depois do golfinho que morreu.

 

5) Apocalipse zumbi gerado pelo celular

As pessoas parecem zumbis que não sabem mais o que se passa nas próprias vidas, não conhecem mais os próprios entes queridos. Parecem mortos-vivos andando por aí, não tem mais vida própria e vivem através de um celular ou de uma rede social.

Parece que só voltam à vida depois que a bateria do celular acaba.

 

6) Analfabetismo virtual ou Dislexia virtual

Ninguém está cobrando das pessoas que se gabarite a prova de português e nem duvidando do caráter de quem escreve errado. Mas um pouquinho mais de valor ao estudo e ao idioma que se fala é bom. Tem gente que não sabe mais escrever direito ou porque não lê mais nada fora da internet (que já tem muitos erros) ou porque usa o corretor de textos. É importante ler livros bons e se esforçar um pouco com a gramática e não nivelar por baixo.

 

7) Transtorno de Personalidade Celular Anti-Social (Psicopata)

O celular está sendo apenas um veículo para as pessoas demonstrarem onde está a doença da sua energia. Aqueles com energia mais destrutiva acabam por se endividar para conseguirem o mais novo modelo de iphone. Os que tem tendência psicopata chegam a matar por isto.

 

8) Autismo Provocado Pelo Celular

Esta é uma cena muito comum nos dias de hoje. A hora em que todos estão reunidos e de repente as pessoas começam a pegar seus iphones e mexer. Ou então nos encontros dos adolescentes (e agora pré-adolescentes e crianças) todos começam a mandar mensagens uns para os outros. Parece que ninguém mais sabe se comunicar. Alguns vivem isolados dos outros em mundos paralelos. Não olham mais nos olhos. Não sei se suportam ou se gostam de toques e abraços. Quem sabe já não sabem mais das regras de convívio social? Autistas são assim. Não olham nos olhos, não se comunicam direito, não gostam de toques e abraços, não sabem das regras de convívio social.

 

9) Excesso de Informações

São muitas informações rápidas o tempo todo. As pessoas não se desligam mais. Estão esperando numa fila de banco mas olhando o celular. Estão o tempo inteiro vendo o que está acontecendo o tempo todo. Imagens, textos, sons… É um excesso de informação e o cérebro começa a cansar. Será que consegue focar no que precisa ser feito realmente? Augusto Cury falou da Sindrome do Pensamento Acelerado. É muito importante as pessoas começarem a refletir.

 

10) Vício-games

Os videogames agora estão disponíveis em qualquer celular. Algumas pessoas (principalmente crianças) se tornam viciadas em videogames de celular. Já vi casos em que a criança chegou a ter dores nos braços por isto.

 

11) Síndrome do Imediatismo e Falta de Paciência

O computador e o celular facilitam a vida por resolvermos as coisas com muita rapidez. Contas a pagar, xerox, fotos, vídeos, músicas para baixar, documentos para enviar… Informações que são adquiridas a uma velocidade impensável. Antigamente, um artigo científico demorava para ser acessado por pelo menos 6 meses (precisava vir de outro país), ligações demoravam horas para serem completadas. O correio era muito necessário.

Hoje em dia, as pessoas não esperam mais. Se querem comer, vão numa lanchonete de fast food ou em um restaurante a quilo onde não precisam esperar mais. A espera de 15 minutos por um garçom apenas para trazer a comida já é motivo de muita irritação.

Pessoas que trabalham com atendimento em público são agredidas por tempo de espera maior que 15 minutos. Ônibus, nada mais pode demorar.

Tudo o que se quer tem que ser atendido agora. Ninguém consegue esperar mais nada. E a paciência é um dos primeiros graus da espiritualidade…

 

12) Exposição ao ridículo

Além do bullying virtual, há pais que não tem noção e expõem seus filhos ao ridículo para milhões de pessoas. O bullying pode provocar suicídios e este tipo de exposição dos pais sobre os filhos pode acarretar problemas psicológicos sérios no futuro para estas crianças.

 

13) Esquizofrenia das Redes Sociais

As pessoas estão vivendo num mundo teoricamente conectado com a realidade, porém é uma realidade criada individualmente que não condiz com o mundo de verdade. São ilusões.

Algumas pessoas somente se relacionam com os outros através das redes sociais. Parece que vivem virtualmente. Não param para conversar, para descobrir o mundo como ele é.

Uma vez estava debatendo um assunto em uma comunidade do facebook e uma pessoa simplesmente disse que não podia afirmar coisa nenhuma porque tudo o que ela sabia vinha do facebook. Era como se a pessoa tivesse como única fonte de informação para tudo no facebook. Me deu vontade de gritar porque a sensação que deu foi que eu seria talvez a única pessoa que lia livros verdadeiros e conversava com pessoas verdadeiras fora de um computador ou celular e tinha realmente vivido na pele para dizer o que eu pensava sobre determinado assunto. É o efeito da crianção dos zumbis virtuais.

14) Mortes por Selfies

Isto parece ridículo, porém é verdadeiro. Tem pessoas que querem tirar selfies desrespeitando limites de segurança, querem fazer fotos em lugares perigosos ou situações perigosas e se arriscam tanto que acabam morrendo.

Selfies já matam mais humanos do que ataques de tubarões

 

15) Cegueira das Coisas Simples

As pessoas sempre colocam coisas incríveis e só falam de coisas felizes (ou então reclamam muito). Parece até que a vida é sempre feita de pores do sol perfeitos, comidas incríveis, lugares maravilhosos e eventos estroboscópicos. Quando na verdade, existe trânsito, fila de banco, levar os filhos para a escola, fazer compras no supermercado, cozinhar, lavar, passar… Nem tudo é incrível e extraordinário.

Nas escolas Waldorf, eles ensinam que quanto menos, melhor. Menos estímulos visuais o tempo todo, menos informações, menos sons. Os casais que participam da vida dos filhos pequenos de verdade, estão presentes levando e acompanhando no dia a dia, são pessoas geralmente mais simples e que dão valor a coisas simples. Há que se ver a beleza nas coisas simples. Numa flor na beira da estrada. Num pássaro que vem pousar por perto. No descobrir o que é a chuva (as crianças nos acordam para a beleza das coisas simples). Uma refeição normal pode ser uma coisa muito legal se você tiver alguém para conversar.

A felicidade verdadeira é feita de pequenos momentos simples que passamos com as pessoas que amamos. São pequenos gestos, sorrisos, carinhos. Este excesso de informações e a falsa ideia de que todos estão sempre tendo dias incríveis vendo paisagens estonteantes em lugares extraordinários leva a uma insatisfação constante.

Uma vez andava por um lugar com uma pessoa e esta pessoa apenas demonstrava insatisfação com tudo. Não conseguia enxergar a beleza do lugar. Voltei com outras pessoas no mesmo lugar, eles adoraram e tiramos fotos lindas. A mesma pessoa com quem passei no mesmo lugar antes e só demonstrava insatisfação veio me perguntar onde era aquele lugar lindo. Tive de dizer que era o mesmo lugar que havíamos passado antes e ela foi cega em não enxergar na simplicidade a beleza.

 

A cura para as celularites

Eu sei que isto pode parecer óbvio para muitos que já acessam este blog. Mas cabe refletir.

 

1) Vá viver a vida.

A vida para quem se dispõe pode ser muito mais emocionante do que filmes e livros. Se você tem uma vida que outros dizem “Anota e escreve um livro”, já está valendo. Mas para isso, permita-se. Saia de casa. Mesmo com filhos, saia de casa com eles.

2) Limitação do tempo de uso das redes sociais e de qualquer outro tipo de atividade com o celular (isto também significa tablet).

3) Prestar atenção quando estiver em aeroportos, ruas, em qualquer tipo de atividade em que envolva risco de vida ou perda de horário. Pare de mexer no celular nestas horas.

4) Desligar o celular em encontros sociais, conversar olho no olho.

Converse muito com pessoas reais. Procure saber das histórias e das vidas delas. Abrace mais.

\

5) Aprender a valorizar a pessoa e não os objetos que possui.

Sabe aquela música “Jogue suas mãos para o céu e agradeça se acaso tiver alguém que você gostaria que estivesse sempre com você, na rua na casa na fazenda ou numa casinha de sapê…”

6) Entrar em contato com a natureza, com os animais e plantas, aprender a amar de fato a natureza.

Aprender que os animais não são coisas. São seres vivos independentes dos homens, não são objetos de posse. Precisam de liberdade e de ter seu habitat respeitado. A consciência ecológica começa ao entrarmos em contato com a natureza. Se o seu filho pensa que o leite vem da caixinha, procure algum lugar para mostrar uma vaca. Se nunca viu passarinhos voando na natureza, procure algum lugar para levá-lo regularmente. Fazer sentir que animais e plantas não são objetos, são seres vivos como todos nós.

 

7) Fazer o máximo de atividades que não dependam de um celular.

Vá andar de bicicleta, nadar, conversar com alguém ao vivo, bote seu filho para brincar ao ar livre com outras crianças.

 

8) Ir para lugares onde o celular não tem sinal e passar dias por lá.

Sim, os locais em que o celular não pega são assim. Paraísos. Descubra o paraíso na Terra. Louve a Terra. Respeite a natureza.

 

9) Desligar todo tipo de aparelho eletrônico,

Fazer tudo de maneira mais lenta e pausada. Observar a natureza, contemplar mais.

As pessoas pararam de observar a natureza. Claro, não tem mais tempo. Contemplação é coisa de desocupado. Não vivem mais o momento, estão sempre procurando o momento futuro, apressados para chegar em algum lugar e fazer mais e mais coisas, ocupar-se mais. E em lugares com muitos eventos, a mente divaga infinitamente sem ter um repouso.

Ao observar a natureza, percebe-se que tudo tem o seu tempo. O pássaro faz seu ninho pacientemente. A árvore cresce lentamente. Tudo tem o seu ciclo e seu tempo certo de acontecer.

Turn, Turn, Turn (The Byrds, música de Pete Seeger).

“Para tudo existe um tempo. E um tempo para cada propósito divino.” (Eclesiastes – Bíblia)

 

10) Fazer algo que exija atenção e paciência.

Como monges budistas adquirem paciência?

Praticando coisas que requerem paciência. Como fazer uma mandala de areia. Ou fazer origami. Nos dias de hoje, até fazer o que antes as pessoas faziam por si mesmas já é um exercício de paciência. Por exemplo, cozinhar, plantar (e manter as plantas), fazer o serviço de casa, costurar. A arte que não seja virtual, que dependa de tempo para secar uma tinta, esperar o tempo certo para tirar uma foto, entrar com um instrumento no tempo certo de uma música mais lenta podem também auxiliar neste aprendizado.

Sem isso, as pessoas vão acabar se metralhando de fato um dia. Pois paciência tem a ver com ver suas vontades satisfeitas e com a frustração com o tempo. E frustração é porta para a raiva.

Vamos pensando em diminuir os excessos. O excesso não é o caminho para o sucesso. É o caminho para uma vida curta desequilibrada cheia de doenças.


Fonte:
Planeta Azul Índigo
Celularite
Ver Artigo Original